sábado, 17 de abril de 2010

Prodigy - The Fat of the Land (1997)


The Fat of the Land é o álbum mais alucinante e vertiginoso da história! Enérgico, é só por si uma mistura explosiva de elementos que nos fazem entrar numa espécie de espiral hipnótica sem fim á vista!
Em 1997 os Prodigy, como eram apresentados na capa, surpreenderam tudo e todos: tornaram-se mais pesados que muito metal, mais punks que os próprios punks e ao vivo tornaram-se um catalisador de massas inacreditável!

Se «Charly» e «Everybody is in the Place» lançavam o Big Beat e a cena Rave em crescimento a um público mais atento, Music fo the Jilted Generation dava voz aos punks dos anos 90, os ravers que viam em «Their Law» um grito de revolta.
Depois da proibição das conhecidas Rave-partys, Liam Howlett produz o seu primeiro grande álbum. «No Good (Start to Dance)» virou banda sonora virtual, «Voodoo People» e «Poison» clássicos a par dos que ainda estavam para vir…

No final do século a música electrónica parecia fundir-se com o Rock em crescentes vertentes, desde o aparecimento do Nu-Metal, ao Big Beat que originou sucessos como Fat Boy Slim que em 98 lançavam o segundo álbum – You’ve Come a Long Way, Baby com sucessos como «Rockafeller Skank» e «Right Here Right Now». Outros projectos apareceram na mesma base, The Chrystal Method e The Chemical Brothers, que curiosamente em 97 também lançavam o clássico Dig Your Own Hole, reconhecido pelo convidado Noel Gallagher , um dos gémeos que davam a cara pelos Oasis.
Poderá ter sido uma moda, mas tal como no Trip-Hop, os icons mantiveram-se sem dar o lugar aos novatos que por aí andam…

É inevitável destacar este Fat of the Land de tudo o resto “semelhante”… mais de 10 anos depois, e a caminho dos 15, os temas deste álbum levam á loucura qualquer um, numa base de fans cada vez maior!

A conquista é feita ao vivo, mas a obra é inexplicável! «Smack my Bitch Up» desenrola a carpete vermelha. O seu vídeo, fora mais do que proibido no air-play televisivo. Tal como a música, é violência pura, ao som do primeiro sample sente-se um relâmpago a acertar directamente no nosso corpo. A cada bater dos pratos da bateria, cada músculo do nosso corpo contrai e “explode”. É irracional, animalesco, é Prodigy!!
Intervalado por vozes do além, algo vindo das arábias, assistimos ao pico de adrenalina da abertura dum mosh-pit misturada na envolvência macabra do trance psicadélico. Dispara o nosso fluxo sanguíneo, ecoa no nosso cérebro e não nos deixa parar.
Impensável será o facto de esta ter como base temas sample que vão desde os icons Disco, Kool & the Gang, passando pelos rebeldes Rage Against the Machine entre outros, de forma quase imperseptível.

Cada música é inveja pura. São mimadas e rabugentas. Querem ser o centro das atenções e por isso obrigam-nos a esquecer o mundo que nos envolve. Bem-vindos ao mundo paralelo, bem-vindos ao mundo Prodigy.

A linha de abertura de «Breath» é mais do que uma referencia para qualquer um que já se tenha atravessado no percurso sem fronteiras da banda. As influências estruturais da sua música são visíveis. Não as vão buscar ao techno da moda nem a outras vertentes electrónicas.
Este é o Rock’n’Roll do futuro. Este tema é descarado. Feito para transmitir a adrenalina de uma perseguição de carros, de uma luta ou de um tiroteio – esta foi a melhor invenção para os milhares de filmes de acção de segunda – em vez de efeitos sonoros basta porem «Breath» para a adrenalina atingir níveis garantidamente superiores.

“Psicosomatic Addict Insane” …. Os versos são cantados em coro num caos como só Liam, Keith e Maxim conseguem gerar.

A par de «Firestarter», este tema fora a camisola de todo o álbum ainda antes de este ter saído ao público. Os videos anunciavam algo de estrondoso, antecipando The Fat of the Land como a possível obra-prima do famoso trio. O resto é visível.

Os Breaks de bateria são mais do que viciantes sem nunca cair na tentação do Drum'n'Bass repetitivo deixando a tarola a ferver...
Este álbum não dá lugar a interludios e introduções desnecessárias. Por outro lado, dá lugar à distinção de temas num golpe de génio por parte de Liam Howlett que se demonstra um produtor único á face da terra! Nada se revela “mais do mesmo” como por vezes se verifica em álbuns de electrónica. A verdade é que isto não é um simples álbum de electrónica, isto é a música do futuro a pousar no presente!

Desde Nevermind the Bollocks que não se via algo do género. Polémicos, numa imagem que pouco apela a um dia apresentar á familia, certamente viram no exemplo dos Sex Pistols o espírito Semi-Anarca que se apoderava da juventude raver da altura.
E a verdade é que muito do seu sucesso inicial passa mesmo por aí... Os tops europeus e norte-americanos foram invadidos nesta febre que ainda hoje só se verifica com eles. Repare-se no mais recente Invaders Must Die, também ele um álbum de culto para os fans da banda, apesar da sua imaturidade.

«Diesel Power» trás ao álbum uma vertente mais hip-hop, e não me refiro directamente aos versos de Kool Keith mas sim a todo o flow ( como muitos gostão de chamar) que o tema recria sem nunca esquecer aquele toque de sujidade e de agressividade pura. Os tempos foram drásticamente reduzidos, impossibilitando por isso o título de single a um dos temas de melhor produção da história dos Prodigy.

Para todos aqueles que gostam de brincar aos Dj's em programas de remistura e de uso de samples, brinquem com o EQ, usem e abusem do modo Mono para Stereo e vice-versa, inventem linhas de baixo disformes ao ritmo base... Criem rasgos e prolongamentos que fiquem no ouvido. No fim, ouçam «Funky Shit» e apaguem toda a porcaria que criaram! Este temas é muito bom mesmo! Talvez por nunca ter caído na banalidade, é um dos meus temas favoritos da banda á muitos anos mesmo.

«Oh My God it's the Funky shit!!!!» - abre caminho a um dos tons mais psicadélicos do álbum. Mais dançável e menos rockeiro que muitos dos temas apresentados, confirma a diferenciação do trabalho de Liam que se demonstra a peça essencial de toda a carreira dos britânicos.
Os outros dois, por muito reconhecidos que sejam, e aplaudidos pela maioria, funcionam apenas como o tal catalisador que difere de tudo o resto. Entertainers.

Ao som de Sirenes despedimo-nos do dancefloor underground e re-entramos no tal mundo onde o Hip-Hop de funde no Big Beat e no Techno à lá 90's... «Serial Thrilla» trás a reconhecida vocalista dos Skunk Anansie, Skin, a dar a voz pelo tema, algo que ainda hoje me faz confusão pois longe está do seu timbre inconfudível em temas como «Hedonism (Just Because You Feel Good)» que celebram a sua carreira respeitável.

«Mindfields» relembra de certa forma «Poison». Num slow-pace esquisofrénico, ganha uma nova envolvencia no ouvinte. Não que os temas ditos rápidos não o sejam. Pelo contrário, apenas se verifica outro tipo. Algo mais pessoal, por assim dizer.
A voz de Maxim é fria, medonha e autoritária. A sua personagem em palco dita o mesmo.

“This is dangerous
Open up your head feel the shell-shock”

A distinção do trio personifica os Prodigy em si, o que se revela interessante visto que a mistura explossiva sem mantém intacta e o sucesso parece não apaziguar!

Lembram-se da banda sonora do Matrix? Aquela repleta de Paul Oakenfold e Dusty Brothers? Misturem com aqueles vocals melancólicos de alguma House-Music que se ouvia á uns 6 ou 7 aninhos... A cargo da voz fica Cristian Mills, um cantor-compositor reconhecido pelo seu indie e que dá o seu contributo a um tema onde se verifica uma certa liberdade criativa e onde se denota uma certa progressividade no tema mais prolongado. «Narayan» é dos momentos menos chamativos do álbum, no entanto, é na subtilidade perante os restantes que faz dele uma peça a ter em conta. O Drum-solo na recta final mistura-se com sons do além e com uma entrada ao estilo Basement Jaxx («Where's Your Head At?»).
Olhem para este tema como sendo um daqueles solos mágicos que por vezes verificamos nos concertos antes daquele momento chave...

«Firestarter»!!!!!! O momento de psicose pura! De loucura desmesurável! Um dos picos de toda a sua carreira, e um dos all-time favourite de muita gente. Percebe-se o porquê. Sem espinhas, é dos temas mais arrebatadores de sempre!
Tragam os fósforos! Vamos pegar fogo á bomba de gasolina! Partir vitrines, mandar cocktails molotov e rebentar com tudo o que conseguirmos!

“I'm the trouble starter, punkin' instigator
I'm the fear addicted, and danger illustrated”

Existe algo ainda mais punk do que o efeito que esta música cria?!
Keith Flitn a soar mais do que nunca ao mítico Johnny Rotten. Numa viagem entre fúria e paranóia, «Firestarter» é resumidamente a libertação de tudo o que acarretamos ao longo dos tempos, e que ao final de menos de 5 minutos se esquece numa sensação de liberdade total.
Afinal a calma vêm mesmo é depois da tormenta.

Este tema mudou todo o mundo da industria musical. As principais rádios do mundo começaram a dar air-play a todo um novo mundo de música electrónica que sofria o preconceito de invocar tal definição na sua música. Por outro lado, a procura do público e a teimosia de alguns críticos e media em aceitar tamanha evolução, demonstraram o sucesso como uma das maiores ironias das ultimas décadas no mundo da música.

«Climbatize» deixa-nos suspensos no ar, numa recta final visível... uma espécie de despedida em slow-motion dos picos arrebatadores que a antecederam. Mais uma vez a liberdade criativa, que poucos têem direito, é visível na produção muito a cima da média de Liam Howlett

«Fueled By Fire» hoje soa-me a mero rascunho de «Piranha» do mais recente trabalho da banda, no entanto trata-se de um bom tema.... para um do álbuns anteriores. A verdade é que é no fecho que o tema descaí um pouco do nível que manteve ao longo de 9 temas. No entanto, a média é mais do que positiva, e ao fim de uma hora a pulsação está a mil e o suor visível a cada poro do corpo reflecte o efeito Prodigy.

No fim a única conclusão possível é de que a chave para o Space Shuttle pode ser encontrado em qualquer Fnac ou loja do género. Uma viagem supersónica, dinâmica e arrebatadora. Uma Viagem como só Prodigy conseguem criar.
Um álbum que certamente não desiludirá nem os fans de música rock muito menos os de electrónica. O Big Beat demonstra o futuro, os Prodigy demonstram-se os Messias.


1 - Smack My Bitch Up
2 - Breath
3 - Diesel Power
4 - Funky Shit
5 - Serial Thrilla
6 - Mindfields
7 - Naraya
8 - Firestarter
9 - Climbatize
10-Fuel by Fire

terça-feira, 30 de março de 2010

Radiohead - OK Computer (1997)


Vulgarmente, nos dias que correm, ouvimos referências a Radiohead como sendo a «maior» banda da actualidade musical. A mais completa, a mais irreverente, a melhor.
Tudo isto é muito subjectivo, mas a verdade é que a formação liderada por Thom Yorke já tem o seu lugar na história. Hoje são ídolos e influencias, e muito se deve a OK Computer.

Depois de um Pablo Honey de estreia, marcado pelo hino do rock radiofónico «Creep», The Bends mantivera a lógica duma banda de rock britânico dito alternativo. Sem grandes complementos, a banda começava a ganhar visibilidade e em 97 todos esses aspectos tornaram-se essenciais na mudança da sua sonoridade e naquilo que hoje reconhecemos como fantástico.

Um síndrome bem Kurt Cobain ( «Smells Like Teen Spirit») marcou a banda que parecia só ter um tema no curto mas já respeitoso reportório. «Creep» é hoje um momento raro de se ver, e da sua exaustão saiu uma mudança total do rock cru dando lugar a algo mais progressivo e aventureiro.
OK Computer é o ponto de viragem. Kid A, lançado em 2000, tornar-se-ia demasiado confuso para quem saltá-se este incrível marco na musica dos últimos 20 anos.

Um quadro dinâmico, que muda a sua pintura de forma inconstante. Por vezes sente-se um auto-retrato na voz de Thom Yorke que se demonstra um letrista fora do comum. Por outras entramos num abismo colossal de efeitos sonoros consideráveis.
A recepção dum álbum destes não é fácil, os ventos de mudança são visíveis… Radiohead prestes a conquistar o mundo sem dúvida.

Procuravam algo de novo, que marca-se a sua carreira de forma a abalá-la, não caindo no facilitismo de meras sequelas e continuações de álbum para álbum.
A fórmula tinha funcionado anteriormente, e não deram sequer azo ao desgaste.

«Airbag» é um dos temas que faz deste álbum, o meu favorito da banda. O Riff esmagador que dá abertura a este longa-duração assemelha-se ao medonho som da gigantesca chaminé do Titanic em queda… É estrondoso sem assustar ninguém. A voz de Thom Yorke não o permite.
O uso de samples ao nível da percussão, bateria e baixo, é algo subtilmente genial, melhor, só mesmo o registo vocal que se torna hipnótico. O cérebro flutua ao som deste tema.
Consta que o famoso DJ Shadow teve a sua cota de influência ( Endtroducing ) na produção deste tema em concreto. Inevitável será dizer que a evolução está á vista de qualquer um.
Relembrando de certa forma «Just» de forma a não ser aquele choque…

O tema que se segue é um daqueles momentos-chave em toda uma carreira. Um tema mais prolongado do que a banda nos tinha vindo a habituar, deixa para trás o brit-pop de todo e procura algo mais progressivo e de certa forma mais sentido.
«Paranoid Android» é mais do que viciante! Será esta uma procura de algo épico, como por exemplo um «Bohemian Rhapsody» dos Queen aplicado ao final do milénio? Em 1997 certamente não imaginariam o estatuto que viriam a ter nem a forma como iriam abalar toda a indústria discográfica com o álbum In Rainbows (2007), uma década depois…
Sem rodeios, épico ou não, é um tema fantástico. Uma salada de frutas perfeita onde se jogam todo o tipo de sentimentos, de emoções e de rasgos de completa inconsciência – de loucura pura e dura.
Já ouvi por ai ao virar da esquina cibernautica e tropeçando em alguma imprensa especializada, que este OK Computer se revelou de certa forma um neo-Dark Side of the Moon, e eu compreendo perfeitamente o que querem dizer com isto.
Não se trata de números nem de sonoridades concretas, é mesmo o sentimento de busca. De liberdade artística.
Para tal muito contribuiu o facto de este álbum ter sido gravado fora da movimentada cidade e pela própria banda, de forma a garantir uma certa independência musical. Concentração total.

As 4 fases distintas de «Paranoid Android» complementam-se numa fábula autêntica. Daquelas que começam… Era uma vez os Radiohead que faziam boa música. Moral da História? O sucesso mais do que merecido.

"You don't remember, you don't remember, why don't you remember my name? Off with his head, man, off with his head, man, why don't you remember my name? I guess he does"– arrebatador! Um Riff que não precisa de muito mais para partir a loiça toda!

«Subterranean Homesick Alien» entra numa onda mais calma. Os efeitos de fundo demonstram-se essenciais aos novos temas, e a verdade é que os pormenores fazem a diferença! O efeito Chill-Out transcende muitas das músicas que se denominam de tal. Psicadélico ao ponto de nos transpor para um mundo em slow-motion, onde as cores não são estáticas e onde o conceito de volume não existe. 4 minutos e meio no País das Maravilhas atrás da bela Alice…
«Exit Music (For a Film)» prova que os álbuns que ficam para a história são aqueles que buscam toda uma variedade de reacções, de temas e de composições.
“Today we escape… we escape.” .
Esta música em concreto consegue baixar o astral ganho com o rock orelhudo e o psicadelismo experimental dos temas anteriores. O dom da palavra de Thom Yorke é comprovado através de temas como este, que consegue criar todo um ambiente de desconforto e de alguma nostalgia. Infelicidade.
No verso da medalha está o título já carimbado de depressivo… Um tema pleno de emoção. Um confessionário.

Desiludam-se se procuram neste 3º álbum uma renovação de músicas como «High and Dry» ou até mesmo a rockeira «Anyone Can Play Guitar»! «Let Down» prova uma produção muito acima da média, cada som é trabalhado ao pormenor, e se o ouvinte estiver num estado de espírito explorador encontra camadas e camadas de pequenos pormenores que distinguem os que ficam e os que passam.

É a meio do álbum que encontramos o hino Radiohead. Aquele que se ouve em uníssono público-palco nos seus tão aclamados concertos. É aquele que nos faz crescer aquele arrepio. É aquele, que sem sabermos porquê, se demonstra um camaleão a cada audição! Que cria reacções distintas.
«Karma Police» é uma prova da genialidade da banda em todos os aspectos!
Não é um sucesso comercial indiscutível que comprova o que digo, é verdade. No entanto não desiludirei ninguém ao afirmar que este é o tema que marca o peso de uma nova era de rock alternativo, da maior vitória para a música indie.
Toda uma nova geração foi criada. Antes de OK Computer e Depois de OK Computer são épocas distintas . A-OK / D-OK , nascia a religião Radiohead.
O projecto Easy Star All-Star viu neste registo toda uma nova referência para o Reggae que produzem, criando uma espécie de álbum de versões deste mesmo. Um registo agradável e divertidamente descomprometido.

“Karma Police arrest this man.” - as alegorias são cada vez mais trabalhadas e de certa forma fascinantes.

Se verificarmos o panorama musical dos últimos anos verificamos um crescimento das bandas baptizadas de indie. O Rock alternativo, muitas vezes apontado como pãozinho-sem-sal, ganhou um público fiel e conhecedor. O seu elitismo deu lugar a um certo fascínio.
A procura de novos métodos de composição levaram a novas descobertas e novas procuras. Visionários como Thom Yorke demonstraram-se autênticos Da Vinci num Renascimento com base em tudo o que o novo milénio nos prometia oferecer.

A electrónica demonstra-se definitivamente o 5º elemento duma banda de rock do séc. XXI.

«Fitter Happier» demonstra um cómico Sam, a voz robótica que muitos conheceram graças ao processador Windows dizendo palavras aparentemente aleatórias, num interludio WTF?! …
O sarcástico frontman também dá o seu sinal de graça de vez enquando. Quem disse que o indie tinha de ser rígido?

Os Radiohead que hoje conhecemos estão longe de bandas como os Oasis que sobrevivem na imprenssa muito graças aos gigantescos egos dos irmãos Gallagher. Estes sobrevivem nos media graças á sua vertente politica assinalável. Sem camisolas assumidas, dão um novo peso de consciência desde a industria musical á política não deixando para trás o seu carácter ambientalista.
«Electioneering» revela isso mesmo. E desculpem-me os fans, pelos menos aqueles pós- (Whats the Story) Morning Glory, coitadinhos dos Oasis enquanto forem postos desta forma na gaveta do Brit-Pop... Simples e eficaz, encontramos na sua reduzida letra uma vontade de se demonstratem activos como voz de muito do seu público. O Sarcásmo é a palavra chave.
“Riot shields, voodoo economics,
it's just business, cattle prods and the I.M.F.
I trust I can rely on your vote. “

O retorno dos samples assombrosos é registado na fantástica «Climbing Up the Walls», num falsete que deixa muita matéria para o Matt Bellamy (Muse) aprender. Possivelmente, sem Ok Computer não teriamos muitos dos temas que fazem sucesso no reportório crescente dos Muse! Se bem que em '99 a quando do lançamento de Showbiz, os próprios Muse não acharam muita piada á comparação...
Relembrando sons que nos transmitem um cenário Homem vs Máquina, este tema na estrutura do álbum serve de exorcismo. Apesar de balada, esta música trás tudo menos conforto... é confusa e demasiado pessoal...

«No Suprises» é um renascer total após tamanho experimentalismo. Envolvente e dona de uma atmosféra única!
O uso do som cristalino do xilofone tira lugar ao empreendorismo doutros temas, no entanto é uma beleza estonteante que descobrimos num dos temas mais tristes de toda a galáxia Radiohead.
Um hino de alienação moderna, que retrata a monotonia que marca a vida quotidiana do ser humano. O típico trabalhador das 9h ás 18h e 30m. A infelicidade de viver de certezas e de rotinas.

“A heart that's full up like a landfill,
a job that slowly kills you,
bruises that won't heal.
You look so tired-unhappy,
bring down the government,
they don't, they don't speak for us.
I'll take a quiet life,
a handshake of carbon monoxide,”

Não se precisa de ser um die-har fan para se apaixonar por este tema.
OK Computer é de certa forma um pedaço de Modernismo Urbano aplicado á música rock, e este tema é sem dúvida um dos seus melhores agente imobiliários. Um dos melhores temas da sua discografia, e não me digam o contrário. Single ou não...

E pegando por onde acabei o parágrafo anterior, «Lucky» é um exemplo do inexplicável. Este tema merecia ser a bandeira de um álbum, e nem sequer foi apresentado como single! E esta?
A única explicação que encontro é mesmo porque não se trata de um original do Ok Computer mas com dois anos antes, tendo saído numa compilação para uma campanha de solidariedade em 95...

De qualquer forma, é um autentico pecado para o seu fidedigno público não saber este tema de trás para a frente de tanto passar no leitor de Cds... Esta tenho a certeza que foi escrita para ser cantada por centenas de vozes! Não fará outro sentido senão esse...Não quero que faça pelo menos. «Lucky» fluí como nem uma pena a flutuar numa tarde de Primavera. É muito mais que superficial. É encantadora.

A despedida torna-se complicada, e «The Tourist», talvez por esse encargo, é o tema que menos faço questão de ouvir... Jonny Greenwood, o multi-instrumentalista, é um compositor nato, e a muito se lhe deve os créditos da banda. A ele também se lhe deve esta capacidade em puxar pelos dotes do vocalista, num mundo de subtileza electrificante, onde a perceptibilidade e o easy-listening foram deixados para trás. Radiohead é elitista. Não é para qualquer um: é para quem se atreve a ir mais longe.

OK Computer, saia 3 anos mais tarde e seria o melhor álbum deste novo milénio, pelo menos , até á data.



1- Airbag
2- Paranoid Android
3- Subterranean Homesick Alien
4- Exit Music ( For a Film)
5- Let Down
6- Karma Police
7- Fitter Happier
8- Electioneering
9- Climbing Up the Walls
10-No Suprises
11-Lucky
12-The Tourist

segunda-feira, 15 de março de 2010

Audioslave - Audioslave (2002)


Em Outubro de 2000, Zack de la Rocha, vocalista dos rebeldes Rage Against the Machine, anunciava a sua saída para envergar num projecto a solo.
O mundo parou: o suposto fim dos RATM assim como doutras bandas ; o desvanecer do grunge ; o prevalecimento do Nu-Metal, (que vinha abalar o mundo metaleiro com as influencias no Hip-Hop, em alguma electrónica e num conceito de música rock simplista-o- sintetizada); … O Rock estaria a morrer?
Nunca.
Talvez a introdução seja um pouco extremista, mas a verdade é que num curto espaço de tempo sentiu-se um vazio pouco esperançoso quanto a futuras surpresas.

Em 2002 , algo de inédito acontecia – o icon grunge e sex simbol dos anos 90, Chris Cornell, largava o seu projecto a solo (pouco sucedido face aos resultados nos Soundgarden) e juntava-se a uma formação de luxo, Tim Commeford no baixo, Brad Wilk na bateria, e a cargo da guitarra o virtuoso Tom Morello.

Juntava-se assim o Hard Rock próprio da voz do Chris Cornell, rasgada e inconfundível, ao som da descarga eléctrica que caracterizava os Rage. Formação de luxo.

Duas major labels a negociar o que vira a ser conhecido por Audioslave, algo de espectacular na indústria musical! Uma “fusão” de dois ícones á escala mundial dos últimos anos.
Desde cedo uma novela… se dum lado a expectativa era muita, do outro às más-linguas apontavam objectivos como obtenção de dinheiro fácil numa altura em que ambos estariam numa fraca fase criativa.

A verdade é que Audioslave, álbum homónimo, saiu e foi um sucesso de vendas. Por outro lado, a crítica não cedeu e mostrou-se dura na recepção á banda nos trabalhos originais.

Ao contrário da crítica geral, eu vejo este álbum como uma tentativa de distanciamento dos antigos projectos, sendo que essa possa ter sido mal interpretada por muitos fanáticos das antigas sonoridades - completamente compreensível diga-se!
O som demonstra-se de certa forma original, próprio. No entanto seria difícil enganar o mais distraído dos ouvintes perante as semelhanças e as influencias dos antigos projectos. Semelhanças repare-se.

Rick Rubin a cargo da produção é meio caminho andado para o sucesso. Albums miticos de Slayer a Red Hot Chili Peppers, passando por Neil Diamond e Johnny Cash, Shakira, System of a Down, Linkin Park, Metallica, AC/DC, Smashing Pumpkins, Wu-Tang Clan, Beastie Boys, Run DMC, Limp Bizkit, Kid Rock, LL Cool J, Slipknot… é preciso continuar?!
Toque de Midas no mínimo! Até a banda Sonora do South Park teve a produção deste Sr.!
Ah! … e lá está! Rage Against the Machine!

Depois de Renegades of Funk, Tom Morello e Cª já sabiam como funciona Rubin e como este tenta retirar o melhor de cada elemento colectivizando-o num só. Se por um lado é uma perspectiva muito poética, por outro é aqui que a jovem e experiente formação peca.
Este álbum capta e retrata muito bem o espaço temporal, aliás, a fase inicial da banda. A insegurança de agradar a elementos divergentes, de procurar pontos de equilíbrio que não seriam assim tão indispensáveis torna as coisas menos fluidas e de certa forma forçadas em alguns momentos.
No entanto, não se verifica a queda em tentação de modas emergentes de um post-grunge radiofónico nem de uma procura forçada de algo mais pesado, que muito se temia em toda a discografia dos RATM, que sempre resistiram sem ceder!

Pelo contrário, Audioslave apresenta um conjunto de músicas focadas num hard-rock modernista face aos efeitos genialmente criados por Tom Morello que teimosamente joga ao toca e foge com as linhas de baixo e aos ritmos marcados a negrito da bateria.
E a voz de Chris Cornell? Desde Soundgarden, e do seu clássico Superunknown, que não o ouvíamos em tão boa forma!

«Cochise» desde cedo dá um certo tom de suspense á coisa – o que irá sair daqui?
As influências de algum Heavy-Metal e Hard Rock ao estilo Led Zeppelin encaixam em riffs bem ao estilo que sempre caracterizou Tom Morello como guitarrista.
Uma música que sem cair em excessos, agrada por um certo revivalismo. Simples e sem a densidade e a objectividade que Zack lançava nas suas Punch-Lines.
Este foi o primeiro single e obrigatoriamente um clássico da banda.
A letra revela alguns traços politizados, referencias á luta indígena, curiosamente escrita por Chris Cornell e não por Tom Morello, o eterno inconformado.
Será este o preço a pagar de Chris? “Go on and save yourself
and take it out on me” – é repetida de forma a tornar-se um refrão inevitável de ficar no ouvido.
O segredo no som próprio da guitarra reside no simples e inovador uso da técnica de pedais com um surpreendente… lápis! Helicóptero pensavam vocês? Pois…
O vídeo por sua vez é todo um simbolismo pela nova união. Um celebrar e uma apresentação de velhos conhecidos.

«Show Me How To Live» revela uma vertente mais rasgada, um apelo ao headbanging num refrão despreocupado, que nos faz cair na tentação de ao segundo tema estarmos a afirmar que este se trata dum possível ao rumo desejado dum rock que se quer actual e dinâmico.
Mais um dos temas a terem que ser reconhecidos por qualquer candidato a fan da banda. O efeito Phaser saído do amplificador dá todo um toque de especiaria ao tema, mais contido por sinal, o solo demonstra um novo rumo na técnica de Morello que opta por uma objectividade
som a som, mais uma vez influência de Rick Rubin que gosta sempre de deixar tudo bem perceptível.
Ao som de «Gasoline» sente-se uma certa estruturação do colectivo, numa marcação de tempos sistémicos que não primem pelo épico mas mesmo pela naturalidade com que se deixa fluir. Os rasgos de voz demonstram uma óptima forma de Cornell que mais uma vez não teme puxar por notas mais dificultadas ao “cantor” comum.
Por outro lado «What You Are» aponta uma estrutura mais ao estilo Seattle de outras praias onde o vocalista sem sente mais á vontade. Uma espécie de Power Ballad do novo milénio que mantém o nível rítmico da bateria. A sequência inicial faz de certa forma relembrar «Hells Bells» de AC/DC mas o som em overdrive dos riffs em chorus, ou como quem diz, no refrão, fazem deste tema dinâmico e sem espinhas. O Solo é no mínimo invulgar, e mais um para a caderneta de inovações de Tom Morello que consegue puxar pela originalidade sem se limitar ao braço da guitarra e ao “simples” dedilhar de notas.

O momento inevitável e que dita todo o sucesso da banda numa música chama-se «Like a Stone». Um tiro direito á cabeça. O alvo tinha sido marcado e estava pronto a abater. Um sucesso imediato graças à subtileza letal de solos matadores de guitarra, e linhas de baixo que dão todo um ênfase ao tema. A letra dá vontade de decorar antes de a ouvir! Ou direi escutar?
Um tema longe de ser uma explosão ao nível de RATM e do rock puro e duro de Soundgarden mas que demonstra toda uma evolução de sonoridade na procura de algo novo.
Mais emotivo do que se pensa, este tema não cede ao liricismo banal de amores proibidos e que invadem as rádios mundias, retrata todo o peso da incerteza.

“And on my deathbed I will pray
To the gods and the angels
Like a pagan to anyone
Who will take me to heaven”

A eterna falha dos Audioslave como banda foi a falta de momentos de magia, por assim dizer, na sua discografia. Tudo em regra geral soa bem, mas sente-se falta daqueles picos de loucura criativa que ditam a opinião final e que por vezes conseguem fazer fechar os olhos a muita porcaria…

«Set It Off» retoma o formato inicial de temas como «Cochise», definindo o que viria a ser a sonoridade própria de Audioslave. A linha de baixo procura trazer a sua vertente mais funk, tanto calma como agitada, reflexo de uma produção sem grandes riscos, tomada como certa do inicio ao fim. Convence, nada mais.

Na sombra do Sol Chris Cornell abraça um momento bem Soundgarden «Fell on Black Days» com o peso dum certo preconceito que ridiculamente obriga tudo pós Grunge a ser mesmo Post-Grunge.. «Shadow of the Sun» é um tema que foge á linha de raciocínio apresentada, dando um certo toque de diversidade á coisa. Sente-se todo o potencial ao passar de cada tema, mas nunca um pico de carreira em cada um dos músicos.

Daqui para a frente, a visibilidade dos temas diminuí substancialmente. Sempre regulares, apresentam uma «Exploder» a dar resposta ao tema anterior, uma «Hypnotize» de facto hipnótica e com uma sonoridade que vai buscar as mais improváveis influências eléctronicas que define temas de Trip-Hop como de «Unfinished Shympathy» dos Massive Attack. Um Scratch que já não engana ninguém desde «Bulls on Parade» em que com muita dúvida se lia no álbum que nada mais levada do que guitarra, baixo e bateria na sua composição…

«Bring Am Back Alive» dá peso ao baixo, que fica demasiadas vezes para segundo plano neste álbum, pelo menos na altura de brilhar. Um momento que certamente foi dar razão a muitos prognósticos pessimistas. O que raio estavam a pensar que ia ser o resultado de distorcer de forma pouco ortodoxa?
A sequência final mata o álbum. A verdade é esta. Fica a ideia de algo que conquistariam mais tarde com Out of Exile, mas neste fica muito aquém.

«Light My Way» mostra uma certa falta de originalidade de riffs quer numa fase de introdução quer na fase rítmica cantável… a adaptação ganha contornos algo cansativos e que dão pouca vontade de alargar muito mais a recepção demais temas. Tal como o Sporting de outros tempos, parece que para ganhar basta apostar nos primeiros 15 minutos. Mas tal não cria campeões…
«Get Away Car» está demasiadamente concentrada na obtenção de algo especial, algo que fique eterno. Um bom registo, íntimo e que foge ao álbum por breves minutos. Um solo mais jazzy da banda, que faz deste um registo raríssimo na carreira de cada elemento.
Chris Cornell está longe de ser um Robert Plant, mas á qualquer coisa de doce naquela voz sofrida e desgastada. A melancolia e a ressonância de cada sílaba fazem de « Last Remaining Light» um retardar de prestação de contas banda/público. As dúvidas ficam para depois. Em Audioslave celebra-se o potencial – diamante em bruto - que é ter uma super-banda.

É sem dúvida um álbum razoável que sai completamente lesado pela falta de cariz individual, de uma preocupação desmesuravel em tomar riscos. No entanto, é a história que dita tal opinião. E ela diz-nos que os clássicos já passaram, hoje apreciamos o percurso dos artistas.
O título do álbum reflecte bem o que une a banda. A paixão pela música faz deles escravos na criação de temas que nos enchem de orgulho só de os ouvir. Temas que ainda hoje dão razão aos ídolos do passado. Hoje do presente, e a continuar assim, certamente do futuro.


1- Cochise
2- Show Me How To Live
3- Gasoline
4- What You Are
5- Like a Stone
6- Set it Off
7- Shadow on the Sun
8- I Am a Highway
9- Exploder
10-Hypnotize
11-Brimg'em Back Alive
12-Light My Way
13-Getaway Car
14-The Last Remaining Light

terça-feira, 9 de março de 2010

Jeff Buckley - Grace (1994)


Jeff Buckley é um James Dean reencarnado nos anos 90. A sua imagem invoca rebeldia mas a sua música demonstra uma delicadeza extrema. Perder Jeff Buckley foi perder todo um potencial incalculável e que ainda hoje nos faz perguntar: até onde poderia ter ido?
Grace será a sua eterna obra e a nossa eterna dúvida.

Aos 27 anos juntou-se a clube dos astros que cumpriram o prazo de validade como uma estrela. “Live fast, die young”. Jimi Hendrix, Kurt Cobain, Brian Johnson, Jim Morrison, entre outros que formam o clube 27.

Este é o único álbum de estúdio do músico e compositor. Grace tem vindo cada vez mais a ser reconhecido como sendo de culto, não só pela crítica como pelo público, que dentro dele encontra várias referências musicais assinaláveis. Nomes como Robert Plant e Jimmy Page (Led Zeppelin) assim como David Bowie fizeram questão de deixar a sua opinião bem presente, citando que este se trata de um álbum maravilhoso e imprescindível nas listas dos melhores de todos os tempos. Thom Yorke (Radiohead) por sua vez admitiu que um dos maiores hinos da música indie/ alternativa , «Fake Plastic Tree», é composta com várias influências vocais de Buckley.

Da primeira vez que ouvi este álbum tive a sensação que muitos terão, de estar a verificar algo de maravilhoso. Um golpe de genialidade. Humilde e sentido, as suas letras soam sinceras e em tom de desabafo.
Em Grace encontramos um mundo de incertezas dum jovem compositor que foi contra tudo e todos, criando algo de muito próprio, e por irónico que pareça, algo de muito maduro.

Jeff Buckley é um verdadeiro músico. Á música dedicou a sua vida. Da música vêem as suas origens.
É em Tim Buckley que tudo começa. O pai do músico era também ele outro tal, sendo relativamente conhecido. Também ele falecido com apenas 27 anos, nunca manteve uma relação para com o filho desejável, e para compreender Grace é inevitável percorrer o percurso familiar do seu autor.

Não se revelam histórias do passado nem opiniões, apenas sentimentos. O afastamento que Jeff manteve do pai durante anos ditou tanto a sua personalidade como a sua música.
Jeff não queria soar como o pai. Não queria cair na tentação de limitar a sua criatividade. Não queria cair nos mesmos erros …
A heroína roubo-lhe o pai distante. O pai que estava disposto a perdoar mas ao qual deu o seu tributo. Jeff Buckley era «Scotty» Mothead, apelido do padrasto , após a morte de Tim Buckley, este optou por usar o seu primeiro nome e o verdadeiro apelido.

«Mojo Pin» inicia a sequência que tira o fôlego a qualquer um. O tom psicadélico dos versos sussurrantes de Jeff dá lugar a um prolongar dos dotes vocais do mesmo na ponte para o sentido refrão.
Este tema representa toda a envolvência doentia de vícios insaciáveis, das pessoas às drogas.
Consta que tudo começou num sonho, onde Buckley viu um «chuto» entre os dedos dos pés duma mulher de cor sentada no chão.
Se há coisa que «Grace» consegue como poucos álbuns o conseguem fazer, é conseguir recriar os sentimentos da letra através da própria música, fazendo chegar ao ouvinte de forma muito natural e pitoresca.
«Grace» dá continuidade à incrível composição partilhada nestes dois primeiros temas com Gary Lucas. A banda que fica de certa forma á sombra do icon Buckley é de qualquer forma um bem mais do que essencial nesta magnífica produção! Um tema que puxa pela veia mais rockeira do trovador que é acompanhado pelo excelente trabalho de bateria e por alguns “flangers” a dar o efeito de loop ao rebentar da coisa.
Um dos temas mais celebrados e compreende-se bem porquê. Mais uma vez o tema toca e as letras são o estandarte perfeito. Dedicada ao sentimento de imortalidade que a paixão lhe dava, Jeff celebra a vida enquanto pode…
A escolha de temas, a busca de inspiração nas pequenas/grandes coisas da vida… a forma como as torna possível – tudo isto prova a genialidade dum jovem com pouco mais de duas décadas. O risco que tomou faz dele um herói da música contemporânea.
«Last Goodbye» é um verdadeiro rasgo de música pop-rock de qualidade. Se do outro lado do pacífico estamos habituados a tudo em grande, tudo bem Hard Rock, JB representa a simplicidade como fórmula de sucesso. Um tema que muito boa gente gostaria de ter composto ainda nos dias que correm. A ele se entrega o prémio do tema mais aplaudido da banda como single. Os riffs orelhudos deixam escapar os agudos de Jeff que soam incrivelmente seguros.
A voz é cristalina e não falha uma única nota. Desafia as suas capacidades a cada compasso e não teme cair na histeria. Uma das melhores vozes de todos os tempos, não haja qualquer tipo de dúvida.
Esqueçam qualquer balada que ouviram até ao primeiro segundo deste tema. Escondida numa certa timidez, «Lilac Wine» demonstra a verdadeira noção de fragilidade e de beleza, pura e incorruptível . Num tom de voz que não destoaria num Freddy Mercury, trás algo de novo ao álbum. Trás a rendição do ouvinte e a prova de toda uma cultura musical incontestável mergulhado num mar de referencias, que neste caso foi até Hope Foye buscar este tema dum musical com mais de meio século. Eterno.

«So Real» soa “so indie” que obriga-nos a verificar as tais influências que este transmitiu a bandas como Radiohead. Composta num simples rasgo de espontaneidade a meio da noite – duma só vez apenas! A secção rítmica, aliás o refrão! Estonteante! Os pequenos arranjos de produção estão 5 estrelas, “…I Love You..” soa de forma hipnótica, soa a trip, soa a um estado de espírito transcendente…
O suspiro.
Épico, um dos melhores momentos de sempre na carreira de Jeff Buckley. Um dos melhores temas de sempre. Uma das melhores interpretações, arriscada e conseguida.
«Hallelujah» foi tornada 8 maravilha do mundo na sua voz.
A sua beleza estonteante contrasta com o peso emotivo da voz de JB. A sua voz toca-nos, inspira-nos, faz-nos chorar, rir, dá-nos esperança, dá-nos um momento de introspecção. É transparente, é transcendente. É Imortal.
Leonard Cohen deu ao mundo a matéria, mas a obra-prima é de sua autoria. Quando deixamos de chamar cover para versão é por que algo de bom se proclama. Pois bem , eu proponho uma adição do sufixo –ão a versão para dar um ênfase ainda maior. Era no mínimo merecido.
Dando continuidade ao tom mais emotivo, «Love You Should’ve Come Over» é uma lição para músicos da nova geração, sem fugir demasiado á linha dum blues pop-rock consegue demonstrar certas influencias que as bandas que ouvia no passado tiveram no seu percurso musical. Tal como noutros temas, é de certa forma visível um foco na voz de Robert Plant, no entando as influências de distintos géneros musicais é mais do que visível em todo o álbum.
«Corpus Christi Carol» tira as dúvidas, este é mesmo um trovador. Quem no seu perfeito juízo arriscaria em composições do séc. XXVI num álbum de estreia, sem género definido?
A resposta é óbvia, e mais uma vez, é de abalo que nos rendemos! É mais um “olha o que eu sou capaz de fazer” do que uma benesse para Grace como álbum. Os Dotes vocais são incontestáveis, mas se há um momento a dispensar, este seria o único… a custo!
«Eternal Life» vive o anos 90, sedentos de garra e de alienação, de espírito rebelde, de grunge-o-mania . É o ponto alto em termos rítmicos donde mais uma vez se relembra a incrível banda que o acompanhava.
Se fosse personificado a cada música, Jeff Buckley metia Fernando Pessoa num bolso no que toca ao número de Heterónimos que se verificariam. Com idades distintas, estados de espírito, tudo. O experiente senhor do tema anterior dá lugar a este jovem cheio de garra!
A fechar, ao som de precursões e de pratos que relembram de certa forma o clássico «Planet Caravan» do grande Paranoid dos Black Sabbath, este «Dream Brother» é mais um reflexo da vida nada facilitada de Jeff Buckley e de toda a sua relação com Tim Buckley. O alarmismo deste tema toca mais uma vez á fuga de responsabilidades e á entrega á ruína. As palavras proferidas ao longo de Grace têm um tom tão biográfico que abala de certa forma o nosso mundo.
Um álbum sincero, onde Jeff, incrivelmente, consegue transmitir toda a qualidade como músico e como compositor. A letra é pesada, cheia de carga emotiva. Um reflexo de vivencia, um respirar de alívio, e um apelo de esperança. Os três num só.
Jeff Buckley viveu muito o pouco tempo que teve.


1- Mojo Pin
2- Grace
3- Last Goodbye
4- Lilac Wine
5- So Real
6- Hallelujah
7- Love, You Should've Come Over
8- Corpus Christi Carol
9- Eternal Life
10-Dream Brother

segunda-feira, 8 de março de 2010

Justice - Cross (+) (2007)


Desde Discovery, aquele mítico segundo álbum dos míticos Daft Punk, que a música electrónica não encontrava um trabalho á altura. Cross , chamemos-lhe assim, é possivelmente o melhor álbum de estreia do género, criando de forma automática o estatuto de estrela da dupla Gaspar / Xavier, os Justice.
As influências francesas são mais do que óbvias, no entanto, os Justice pegaram na fórmula dos DP e recriaram todo o conceito, tornando-o mais «pesado» no que toca aos “beats” que se demonstram monstruosos, cheios daquela sujidade que hoje em dia distingue o sucesso do Maximal e do Fidget perante todos os outros géneros distintos. A própria Ed Bangers Records é a prova desse sucesso.
«Genesis» abre esta “cruz” como nem no Antigo Testamento tinha conseguido! Uma entrada que relembra aqueles momentos épicos dos filmes típicos da Páscoa dá entrada a um mundo de efeitos catalisadores para o maior dos agnósticos no que toca ao dancefloor. Pede-se emprestado umas palmas a «In da Club», que ninguém repara e arranca que se faz tarde!
Alguém anda para lá ao tiros com a sua pistola lazer, porque nesta galáxia somos alvo de tiroteio constante, e «Let There Be Light» aumenta o ritmo.
Se no século passado os velhinhos AC/DC diriam «Let There Be Rock», os mais “modernos” vêem os neons como a luz de saída. Os ritmos alucinantes fazem corar muito do techno de terceira que muito se ouvia á uns aninhos - que vergonha!
Esta nova vaga no mundo da electrónica veio cheia de boas perspectivas quanto ao futuro, de Boys Noize a MSTRKRFT, passando pelo Steve Aoki e os seus colegas Bloody Beetroots, têem certamente como referência este incrível álbum.
«D.A.N.C.E.» dá a conhecer os Justice ao mainstream de cadeias como a MTV com o famoso vídeo das t-shirts , sendo galardoado pelo sucesso que ditou. É também o momento mais cantável do álbum a par de «We Are Your Friends», um hino dos fans dos Justice.
Ao vivo apresentam toda uma introdução à capella que se demonstra um dos picos de ansiedade verificado em Across the Universe (ao vivo). Um tema que vai inteiramente dedicado ao rei da pop Michael Jackson, que mais do que ninguém, abalou as pistas de dança como nunca ninguém o fez.
«New Jack» demonstra descaradamente as tais referencias a Daft Punk que referia anteriormente. A fórmula é simples, dançável e sem picos. «Phantom» introduz um neo-clássico, lá está , «Phantom pt.II» . Juntos demonstram o que de melhor vieram os Justice trazer ao mundo. As influências do Heavy Metal (anteriormente eram uma banda de covers) transcendem os trocadilhos e as versões ( «Master of Puppets» a fechar os dj sets) . É das músicas mais “pesadas” do álbum, num trabalho de mistura ideal, um chamariz a qualquer DJ que se preze!
Por sua vez, «Valentine» demonstra-se despreocupado e fluído, o órgão manda até onde a bateria deixa…
«Tthhee Pparrttyy» está prestes a começar! Uffie dá a voz : «Let me tell you what I do when my day is over…».
O preview fica dado, num tema que deixa muitas das camadas de efeitos de sintetizador de fora para dar um maior ênfase vocal como não se verifica no resto do álbum. Diga-se a verdade, a melhor das opções.
«DVNO» começa a party bem ao género Club, aquele em que o imaginário nos leva para Ibiza onde tudo o que é loira sobe ao balcão para perder a cabeça! O tema mais virado para o House é no entanto trabalhado ao ponto de ter claramente o selo de qualidade do duo.
Contrariando a ideia dum instrumental, este tema prova que Cross tem tudo menos o que seria preciso para se tornar enfadonho, muito pelo contrário, é dinâmico e contrastado.
O momento mais “a rasgar” do álbum é o algo desvalorizado «Stress» que capta bem o título, cheio de efeitos e de samples que certamente ajudaram aos tais 400 álbuns usados em pequenos efeitos e enfeites. A sirene alarma tudo e todos num tema cheio de novas ideias e de um experimentalismo puro e duro que demonstra todo o potencial por explorar dentro da electrónica.
Mais um trocadilho a um clássico do Heavy Metal , «One Minute do Midnight» dá entrada a uma das sequências mais famosas dos Justice, cantada em coro pelos noctívagos. Ao vivo a versão fica acelarada, e demonstra-se perfeita para saltar, suar – rebentar com tudo!
Numa linha de raciocínio, «D.A.N.C.E.» vêm dar a despedida de todo o conjunto de músicas maravilhosas apresentadas a longo deste Cross, no entanto é na obra-prima que reside o encore : «Waters of Nazareh».
Não faço a mínima ideia se esta se trata duma referencia a «Rivers of Babylon» dos Boney M, uns tais jamaicanos que residiam na Alemanha e faziam temas disco dos anos 70 terrivelmente irritantes…não interessa…
Espectacular!! Cuidado com o Bass, com o Treble, cuidado com o volume… o perigo de surdez é iminente, entra e corrói sem dó nem piedade. Um dos momentos mais explosivos da jovem carreira e que muito dita do seu sucesso. A escolha deste tema para single de apresentação é mais do que de louvar! Era obrigatória!
Cheia dum certo ruído e de efeitos que no mínimo deixaram o ouvinte desconfortavelmente apático sem saber como reagir. Um tema para ser tocado no pico das melhores noites! O topo da cadeia alimentar da música electrónica dos últimos anos.
Cross é devastador, é imparável e imprevisível. Depois disto, nunca mais pegarão num Orbital Mix ou num Portugal Night, isso garanto-vos eu.
É tudo menos metal, mas que parte a loiça toda parte!


1- Genesis
2- Let There Be Light
3- D.A.N.C.E.
4- Newjack
5- Phantom
6-
Phantom pt.II
7- Valentine
8- Tthhee Ppaarrttyy
9- DVNO
10-Stress
11-Waters of Nazareh
12-One Minute to Midnight

Pearl Jam - Backspacer (2009)


O tardio álbum homónimo, Pearl Jam, demonstrou-se politico, com garra, com dois ou três picos como a incrível «Comatose», a rockeira «Life Wasted» e a obvia «World Wide Suicide»… pouco mais do que isso.
De facto, a banda de Eddie Vedder estava tão concentrada na mensagem que se desleixou um pouco na entrega aos seus temas…

Foi um bom pretexto para saírem do poço onde muitos arriscavam dizer que tinham caído – dou graças por não ter seguido tal teoria! Backspacer, é a meu ver o renascimento duns Pearl Jam. Mais «leves», rítmicos, jovens.

Os novos temas têm uma capacidade única na banda de me alegrar o dia! De me porem bem disposto desde a primeira audição, como até bem pouco tempo apenas Big Whiskey and the GrooGrux King (ultimo álbum de Dave Matthews Band) tinha conseguido.

A produção deste álbum demonstra uma vertente mais soft da banda de Ten, donde outrora saíram rasgos de fúria como Once, Porch, State of Love and Trust sem fugir a Alive e Even Flow…

Eddie Vedder entra num registo cuidado, sem se dar ao luxo de riscos desnecessários com «Gonna See My Friend». Como na maioria dos temas de Backspacer, este tema fica facilmente no ouvido. No entanto, a estrutura musical é bastante semelhante á de singles dum passado recente … mais contidos. Não é necessariamente uma desvantagem, apenas uma nova versão.
«Got Some» dá continuidade e abre o imaginário do que poderá sair deste álbum para os palcos. Cheia de ritmo bastante “Pearljamesco”!

Mais radiofónico do que isto é impossível, pensado para o formato FM, «The Fixer» é uma espécie de vitrina para o público em geral - Pearl Jam voltaram num formato mais dinâmico e fluído, podendo cair na má língua da musica considerada popular, mas para isso contamos já com um curriculum invejável para calar quem vier pela frente…

Não se engane se pensa numa evolução ao género Timbaland como o colega doutras praias Chris Cornell optou…
Temos o Rock característico da banda que nunca desiludiu os fans a 100%.
«Johnny Guitar» é um tema que aprecio bastante, os rasgos vocais do mítico frontman são ainda hoje impressionáveis. Mais um possível single!

Harmonia é um vocábulo que define bem este novo álbum, tudo soa limpo, bonito – podem ouvir ao pé dos papás á vontade que certamente ganharão novos fans inclusive!

«Just Breath» é a prova disso mesmo. A formula é algo repetida. Lembram-se de «Guaranteed» da banda sonora de Into the Wild? (aquela que dissertei num artigo á algum tempinho) . A formula continua a resultar. Comovente, sentida, melancólica. Dá-se ao luxo duma linha de baixo pouco ortodoxa, algo parola – mas bolas, é Pearl Jam e nada sai mal! Impressionante…

Eddie Vedder de Black a Better man, Small Town a Nothingman, Guaranteed a Just Breath… muito este tipo gosta de me por de lágrimas a cair do cantinho do olho!

Num celebrar da Natureza, «Amongst the Waves» advinha-se cantado em coro por multidões. É conhecida a paixão pelo mar, nunca o esconderam, e este tema é o derradeiro tributo. Mais uma vez não verificamos um «Given to Fly», a banda amadureceu e penso que já ninguém lhes pede um reavivar de memórias grunge.
Pearl Jam tornaram-se uma instituição da música contemporânea, um ponto de comparação só por si – alcançaram a personificação do seu próprio estilo.

«Unthought Know» segue a linha de raciocínio até que Supersonic trás de volta os rasgos de velocidade dum rock mais energético que rapidamente quebra com «Speed of Sound» - o ponto mais baixo deste álbum. «Force of Nature» soa a mais do mesmo…

«The End» pega no título dum tema histórico dos The Doors, mas acabam ai as semelhanças. Melancolia ao género de «Candle in the Wind», um tema pesado do ponto de vista emotivo. Talvez demais para fechar o álbum, mas este é o Eddie Vedder que tanto adoramos, o poeta.

Um bom álbum, que não desiludindo também não faz mossa. No entanto terei todo o gosto em assistir a alguns destes temas ao vivo que certamente funcionaram na perfeição face ao registo que se apresentam.
Tim Mccready demonstra-se um verdadeiro artista neste Backspacer. Porque nem tudo se resume a pormenores e a enfeites.


1- Gonna See My Friend
2- Got Some
3- The Fixer
4- Johnny Guitar

5- Just Breath
6- Amongst the Waves
7- Unthought Know
8- Supersonic
9- Speed of Sound
10-Force of Nature
11-The End

Them Crooked Vultures - Them Crooked Vultures (2009)


Já tínhamos saudades duma super-banda para nos entretermos!
Gosto particularmente do sentimento de uma certa falta de compromisso a longo prazo para com o projecto – apenas bons músicos a criar boa música, será que encontramos algo tão louvável a este ponto nos dias que correm?

Têm tudo para ser um sucesso comercial, não haja dúvida! Mas, penso que pela fluidez demonstrada a cada tema deste álbum se demonstra todo o prazer que o Rock’n’Roll ainda consegue catalizar. Ao som de Them Crooked Vultures voltamos ao guitar hero de outros tempos, aqueles onde uma guitarra tinha 6 cordas e não 5 botões.

É extremamente injusto resumir esta banda a uma espécie de Real Madrid. É galáctica? Sim. Resume-se a isso? Não!
A cumplicidade entre Josh Homme e Dave Grohl é conhecida do público já á algum tempo, é sem dúvida o peso do nome Led Zeppelin (que inveja faz a muitas bandas do mundo da metalada!) que faz levantar muitas orelhinhas - confesso, também as minhas.
Um veterano de guerra como John Paul Jones não iria cair na cantiga do ladrão se não valesse a pena…

Á primeira audição parece que estamos perante uma evolução de sonoridade dos Queens of the Stone Age, os vocais estão lá para isso mesmo, nos trocarem as voltas todas! Que registo de Josh mais uma vez! Gostamos muito de referir estrelas subvalorizadas e buscar por vezes coisas do arco-da-velha – pois bem eu aqui digo, um dia este Sr. vai estar num patamar superior ao que hoje lhe é atribuído, isso vos garanto.
Um verdadeiro artista.

Hard Rock puro e duro como nem Velvet Revolver conseguiram transmitir para o novo milénio, pelo menos com Libertad ( Contraband é outra história(zinha)..).

Começaram bem. Hoje em dia, nada melhor do que uma banda se demonstrar de certa forma saudosista perante a industria e o público, dando aquilo que todos conseguimos «roubar» sem sermos apanhados. Nem todos podemos ser uns Radiohead mas a arma Youtube não foi nada mal pensada! Mais cedo ou mais tarde ia lá parar…

Passemos então para a obra feita:
O resultado de tão distinta equação poderá ser o mesmo para quem vai reconhecendo QOTSA e EODM ( Eagles of Death Metal), mas o mestre de cerimónias e a arma secreta é sem dúvida John Paul Jones, com os seus 60 e picos a transbordar de experiência e musicalidade!
A linha de baixo, por vezes subtil, cria toda a dinâmica do grupo. Robert Page e Jimmy Page ocupavam demasiado espaço em palco para dar a especial atenção ao elemento que parecia ser o mais dispensável dos LZ… Quem me dera ser assim tão dispensável!
Por exemplo, «Reptiles», demonstra todo um resultado de anos e anos de experiência e evolução do antigo projecto do Sr. Jones.
Dave Grohl por sua vez relembra os tempos áureos de Nirvana a abrir a década de 90 cheio de energia contagiante na ponta das baquetas. O Som seco, sujo, aparece desta vez mais trabalhado e contido mas sem envergonhar um John Bonham. Certamente uma referencia neste álbum.

«No One Loves Me & Neither Do I» é a camisola deste álbum homónimo. O compasso de espera marcado pela bateria abre caminho a um tema bem groove e de certa forma psicadélico criando todo um imaginário para o rumo que o álbum irá levar…
Sente-se um Dave «nervoso», com vontade de explodir – seja feita a sua vontade!
Uma batida pesada no ponto, um bom riff sem pressas… lembram-se de «Kashmir»? Apliquem isso ao novo milénio…

«Mind Eraser, No Chaser» é o primeiro momento mais dançável, mais old-school rock’n’roll sem espinhas! Um dos meus temas favoritos, onde Josh e Dave se encontram em sintonia perfeita. O registo vocal de ambos é de facto um Ying e um Yang genuíno. A complexidade dos temas não os obriga necessariamente a uma progressividade forçada e penso que este seja o grande segredo na qualidade deste Them Crooked Vultures. Ainda é possível fazer temas memoráveis com menos de 5 minutos!!

«New Fang» faz bater o pé, Josh ao longe (efeitos) consegue nos chegar ao ouvido, num blues-rock bem saudável. Que tema rasgado, belo, trabalhado mas no entanto fluído.. Haveria um melhor single de apresentação?!

«Dead Ends Friends» tem a marca de Josh, no entanto «Elephant» é todo ele um relembrar de musicas como «Rock’n’Roll» e «Black Dog». Que riff genial!! O pico do álbum para muitos, e quem sou eu para desmentir?! E já que estamos numa de nostalgia, aproveita-se a onda e entramos num modo anos 70/80, pegamos na nossa air-guitar e curtimos ao som de «Scumbag Blues»- descomprometido num tom perfeitamente genial.

É de realçar que denota-se uma certa falta de Foo Fighters dentro do álbum, será mais cliché dizer o contrário do que outra coisa. O que é certo é que o grupo de Dave Grohl tem tido uma certa dificuldade em encontrar o rumo doutros tempos áureos, e não comerciais como os mais recentes – repare-se que eles eram um exemplo perfeito do ponto de equilíbrio!
Será que encontramos o derrotado deste projecto? Dave Grohl a marcar pontos com Probot, Desert Sessions e agora Them Crooked Vultures…

O ritmo cativante das primeiras 8 musicas é repentinamente cortado por um intervaldo («Interlude With Ludes») que me pergunto a cada audição: até que ponto é um contributo para este álbum? Cria expectativa…Ou pela primeira vez a vontade de carregar no botão para o próximo tema…

O título reduzido «Warsaw or the first breath you take after you give up» é a camuflagem dum dos temas onde o baixo de John Paul Jones se destaca. Um acelerar subtil de ritmo num quebra compasso total a meio da música faz-nos crer que este tema poderá ser daqueles a que nos referimos como mágicos nos concertos ao vivo. O instrumental prova a qualidade e a experiência do trio. É aqui que reconhecemos algo de muito especial neste projecto.

As influências mais recentes, são denotadas em «Caligulove» e «Gunman», num registo mais a tender para certas bandas influentes da ultima década em terras de Sua Majestade. Sente-se uma certa quebra inexplicável, a diferença dum 5/5 para um 4/5…

«Spinnig in Daffodils» faz-me relembrar Scott Weiland (Stone Temple Pilots, Velvet Revolver) em registos como «Vasoline» onde tende em enrolar a voz de uma forma mais sensual do que rasgada, contida no ponto. Um tema que transpira sex appeal.
O trio despede-se numa espécie de marcha… Metemos o modo replay e consumimos mais uma vez a maravilhosa e catchy «No One Loves Me & Neither Do I». Nunca soou tão bem dizer tal frase!

Que álbum fantástico, certamente uma das prendas de Natal que não irá desiludir pela certa!

Não reúne o melhor de cada elemento, mas a sua comunhão faz deste um álbum mais do que conseguido neste final de década! Sem dúvida, um dos projectos mais interessantes dos últimos tempos.

Muitos discutem sobre o TGV no nosso país, eu já só pedia TCV !


1- No One Loves Me & Neither Do I
2- Mind Eraser, No Chaser
3- New Fang
4- Dead End Friends
5- Elephants
6- Scumbag Blues
7- Bandoliers
8- Reptiles
9- Interlude With Ludies
10-Warsaw or the First Breath You Take After You Give Up
11-Caligulove
12-Gunman
13-Spinning in Danffodils